Stoltenberg diz a Trump que não se deve minar a credibilidade da NATO

O Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, falou aos meios de comunicação social na quarta-feira de manhã.
O Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, falou aos meios de comunicação social na quarta-feira de manhã. Direitos de autor Virginia Mayo/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
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De  Jorge LiboreiroIsabel Marques da Silva (Trad.)
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Artigo publicado originalmente em inglês

"Não devemos minar a credibilidade da NATO" em termos da sua capacidade de dissuasão de ataques dos inimigos, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, quarta-feira, em reação aos recentes comentários de Donal Trump, candidato a presidente dos EUA.

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"A dissuasão está na mente dos nossos adversários. Não devemos deixar (qualquer) margem para erros de cálculo ou mal-entendidos em Moscovo (capital da Rússia) sobre a nossa disponibilidade, o nosso compromisso e a nossa determinação em proteger todos os aliados", disse o secretário-geral da NATO, quarta-feira, antes de uma reunião dos ministros da Defesa da aliança, em Bruxelas.

"E a razão para o fazer não é provocar um conflito, mas sim evitar um conflito, como a NATO tem feito com sucesso ao longo de 65 anos", acrescentou.

Manter a NATO forte é "do interesse nacional dos Estados Unidos", acrescentou, uma vez que o país "nunca travou uma guerra sozinho", recordou Stoltenberg.

A advertência surge dias depois de Donal Trump, que está a concorrer novamente à presidência dos EUA pelo Partido Republicano, ter sugerido, num comício na Carolina do Sul, que iria "encorajar" a Rússia a atacar qualquer nação da NATO que não cumprisse o objetivo de gastar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) na defesa.

Trump afirmou que o líder de um "grande país" (não identificado) da Europa lhe tinha perguntado: "Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vocês protegem-nos?"

Trump disse que a sua resposta foi: "Não, não vos protegeria. Na verdade, encorajá-los-ia (a Rússia) a fazer o que lhes apetecer. Têm de pagar. Têm de pagar as vossas contas".

Presidente Biden: "Trump curva-se perante ditador russo"

As declarações suscitaram uma condenação por parte dos aliados, que as consideraram um desrespeito do artigo 5º da defesa colectiva em tempo de guerra na Europa. O Presidente dos EUA, Joe Biden, e candidato democrata, também não poupou palavras, classificando os comentários de Trump de "estúpidos", "vergonhosos", "perigosos" e "anti-americanos".

"Conseguem imaginar um antigo presidente dos Estados Unidos a dizer isso? O mundo inteiro ouviu-o", disse Biden no início desta semana. "O pior é que ele está a falar a sério. Nenhum outro presidente na nossa história se curvou perante um ditador russo".

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que os comentários de Trump foram "irresponsáveis e perigosos", enquanto o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, falou de "declarações imprudentes" que "servem apenas os interesses de Putin".

Durante o seu mandato, Trump retratou frequentemente a NATO como uma empresa transacional baseada em países que contribuem com dinheiro, em vez de uma parceria militar baseada na confiança mútua e na cooperação. 

A ideia da NATO é que um ataque a um aliado desencadeie uma resposta de toda a aliança. Desde que nos mantenhamos fiéis a essa mensagem, juntos, evitaremos um ataque militar a qualquer aliado. Portanto, o objetivo da NATO é evitar a guerra, preservar a paz.
Jens Stoltenberg
Secretário-geral da NATO

Com as sondagens a preverem uma corrida presidencial renhida, os comentários incendiários de Trump aumentaram os receios de que o seu possível regresso à Casa Branca possa levar à retirada dos Estados Unidos da aliança, o que deixaria a Europa de Leste exposta à agressão russa.

"A ideia da NATO é que um ataque a um aliado desencadeie uma resposta de toda a aliança. Desde que nos mantenhamos fiéis a essa mensagem, juntos, evitaremos um ataque militar a qualquer aliado. Portanto, o objetivo da NATO é evitar a guerra, preservar a paz", disse Stoltenberg aos jornalistas quando questionado sobre os comentários de Trump.

"Por isso, qualquer sugestão de que não nos estamos a defender uns aos outros, de que não nos vamos proteger uns aos outros, mina a segurança de todos nós, aumentando os riscos", prosseguiu. "É importante que, tanto em ações como em palavras, comuniquemos claramente que mantemos o compromisso da NATO de proteger e defender todos os aliados".

A meta dos 2% do PIB

Decidido pela primeira vez em 2006, o compromisso dos aliados da NATO de gastar 2% do seu PIB na defesa é um objetivo comum e não uma obrigação juridicamente vinculativa.

O objetivo foi reafirmado várias vezes ao longo dos anos e tornou-se um requisito mínimo no seguimento da guerra total da Rússia na Ucrânia. Desde então, os governos europeus têm anunciado planos nacionais para aumentar rapidamente as suas despesas com a defesa. Contudo, em 2023, apenas 11 dos 31 aliados tenham cumprido o objetivo de 2%.

Stoltenberg revelou que, de acordo com as últimas estimativas da aliança, 18 aliados atingirão o objetivo até ao final de 2024. Os aliados europeus e o Canadá deverão investir 380 mil milhões de dólares em defesa.

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"As críticas (nos Estados Unidos) não são principalmente sobre a NATO. Tem a ver com o facto de os aliados da NATO não gastarem o suficiente com a NATO. E essa é uma questão válida", afirmou.

"Esta mensagem teve um impacto. Os aliados europeus e o Canadá deram um passo em frente e conto com eles para continuarem a fazê-lo", acrescentou.

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