Zelenskyy pede ajuda a Bruxelas para crise com agricultores polacos

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, à esquerda, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, conversam durante a sua reunião em Kiev, na Ucrânia, na segunda-feira, 22 de janeiro de 2024.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, à esquerda, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, conversam durante a sua reunião em Kiev, na Ucrânia, na segunda-feira, 22 de janeiro de 2024. Direitos de autor AP/Ukrainian Presidential Press Office
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De  Mared Gwyn JonesJorge Liboreiro
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Artigo publicado originalmente em inglês

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, apelou à Comissão Europeia para intervir no litígio com a Polónia sobre importações agrícolas, que levou a bloqueios na fronteira entre os dois países.

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Enquanto os agricultores polacos bloqueavam, pela segunda semana, a fronteira com a Ucrânia, em protesto contra a concorrência desleal, o presidente ucraniano pediu à Comissão Europeia para intervir na crise, alertando que a Rússia poderá tirar partido das relações tensas entre os dois países.

Volodymyr Zelenskyy instou o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, a participar numa eunião sobre o bloqueio da fronteira, acrescentando que também tinha convidado um representante da Comissão Europeia.

"Temos de preservar a unidade da Europa. Isto é fundamentalmente do interesse da União Europeia", afirmou Zelenskyy, quarta-feira, numa declaração em vídeo.

"Já estamos fartos da presença de Moscovo nas nossas terras. Já tivemos mal-entendidos suficientes. Não nos devemos humilhar uns aos outros, não devemos humilhar os agricultores ucranianos ou polacos", acrescentou.

"Precisamos de unidade. Precisamos de soluções - entre nós, Ucrânia e Polónia, e ao nível de toda a Europa", disse, ainda.

A Comissão Europeia ão confirmou se tinha recebido um convite formal do governo ucraniano, mas um porta-voz admitiu que a situação era "complexa" e "em evolução" e sublinhou que as negociações entre a Ucrânia e os países fronteiriços eram a única forma de encontrar uma solução duradoura. A última reunião técnica teve lugar na terça-feira.

"Estamos a tentar encontrar uma solução que satisfaça, por um lado, o compromisso da Comissão de continuar a apoiar a economia da Ucrânia, incluindo o seu setor agroalimentar, que é de importância sistémica para a sua economia", disse o porta-voz.

"Por outro lado, estamos a tentar encontrar soluções para proteger setores sensíveis do mercado da UE quando há provas de perturbação do mercado. É esse o equilíbrio que estamos a tentar encontrar", acrescentou.

O ministro polaco da Agricultura, Czesław Siekierski, disse ao canal de televisão TVN24 que as conversações em curso com os seus homólogos ucranianos são "muito difíceis" e que se centram em potenciais quotas para a importação de produtos alimentares ucranianos.

"Se a Comissão Europeia não se envolver na resolução deste problema, se este problema não for abordado estrategicamente, a Polónia irá isolar-se dos produtos da Ucrânia, mas estes chegarão ao mercado da Europa Ocidental", afirmou Kołodziejczak.

Disputa de longa data sobre os cereais

As tensões sobre as importações ucranianas têm vindo a crescer na Polónia e noutros Estados-membros do leste da UE, desde abril do ano passado.

A UE levantou os direitos aduaneiros e as quotas sobre uma vasta gama de produtos ucranianos, incluindo produtos agro-alimentares, numa tentativa de ajudar o país a aumentar as suas receitas.

Mas os agricultores de cinco países vizinhos - Polónia, Hungria, Eslováquia, Roménia e Bulgária - queixaram-se de que a medida tinha provocado um excesso de produtos alimentares ucranianos baratos nos seus países, baixando os preços para os produtores locais, ocupando os armazéns e apertando o cinto às famílias das comunidades rurais.

As queixas levaram os governos de Varsóvia e de outras capitais a proibir unilateralmente a venda interna de cereais ucranianos para proteger os agricultores, o que inicialmente provocou indignação em Bruxelas.

Mas com o descontentamento dos agricultores a ameaçar minar a solidariedade da UE para com a Ucrânia e com o voto rural a ser considerado fundamental nas eleições europeias de junho, a Comissão chegou a um acordo temporário que permitia que quatro produtos ucranianos - trigo, milho, colza e sementes de girassol - transitassem pelos países vizinhos, mas sem permanecerem nos seus mercados para consumo interno ou armazenamento.

O acordo chegou ao fim em setembro. No entanto, a Polónia, a Hungria e a Eslováquia desafiaram o consenso europeu e mantiveram as suas proibições, que não são coordenadas e abrangem outras mercadorias para além dos quatro produtos acima referidos.

Donald Tusk, que se tornou primeiro-ministro da Polónia em meados de dezembro, herdou as dificuldades do anterior governo nacionalista para manter a demonstração de apoio à Ucrânia e, ao mesmo tempo, apaziguar os agricultores e os camionistas, que dizem que a sua subsistência foi afetada pela demonstração de solidariedade para com Kiev.

Até à data, o governo de Tusk tem mantido as restrições, causando frustração em Bruxelas. No entanto, a recente onda de protestos de agricultores em toda a Europa despertou o descontentamento, uma vez que os produtores polacos pedem que a proibição de cereais seja alargada à fruta, aos legumes e ao açúcar ucranianos, que, segundo eles, também estão a fazer baixar os seus preços.

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Uma proposta de regulamento da UE, que ainda está a ser discutida, permitiria aos Estados-membros aplicar "medidas corretivas" às importações ucranianas em caso de perturbação do mercado a nível local. O novo regulamento permitiria, igualmente, a reintrodução automática de direitos aduaneiros em caso de aumento dos fluxos comerciais de três "produtos sensíveis" - aves de capoeira, ovos e açúcar.

A Comissão Europeia espera que este novo sistema seja suficiente para convencer a Polónia, a Hungria e a Eslováquia a levantarem as suas proibições unilaterais. Caso contrário, poderá ser intentada uma ação judicial.

"A Polónia mantém o seu bloqueio unilateral às importações da Ucrânia. E é preciso perguntar se isso está a funcionar como previsto", disse um porta-voz da Comissão.

O conflito sobre os cereais, que dura há meses, ameaça afetar gravemente as relações entre os países vizinhos e outros aliados ocidentais. Varsóvia tem apoiado firmemente os esforços de Zelenskyy para resistir à invasão russa e acolheu mais refugiados ucranianos em fuga da guerra do que qualquer outro país da UE.

Mas à medida que o impasse se agrava, o líder ucraniano intensificou a sua retórica. Na sua mensagem de vídeo, Zelenskyy criticou os agricultores polacos que, segundo ele, "despejaram de forma flagrante" cereais ucranianos nas manifestações das últimas semanas.

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"São os cereais que os nossos agricultores e camponeses cultivam com grande dificuldade, apesar de todas as dificuldades causadas pela agressão brutal da Rússia", afirmou Zelenskyy.

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