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Estará o aumento da extrema-direita a obrigar as mulheres a serem politicamente mais ativas?

A little girl waits for her mother to vote, backdropped by voting cabins with curtains depicting the European Union flag in Baleni, Romania, in 2019.
A little girl waits for her mother to vote, backdropped by voting cabins with curtains depicting the European Union flag in Baleni, Romania, in 2019. Direitos de autor Andreea Alexandru / Mediafax
Direitos de autor Andreea Alexandru / Mediafax
De  Inês Trindade Pereira
Publicado a
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Em entrevista à Euronews, especialistas em igualdade de género acreditam que as instituições europeias continuam a ser elementos abstratos nas vidas das mulheres e um espaço alimentado por estereótipos de género.

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O aumento da representação dos partidos de extrema-direita no Parlamento Europeu pode tornar-se uma realidade nas próximas eleições europeias.

Segundo uma sondagem exclusiva realizada pela Ipsos para a Euronews, os partidos da direita radical e eurocética poderão ter mais 30 lugares previstos no Parlamento Europeu, liderando as sondagens em França, na Bélgica, nos Países Baixos e na Áustria. 

A representação da extrema-direita a nível nacional também tem aumentado. Em Portugal, o partido Chega passou de 12 para 50 deputados nas eleições legislativas de 10 de março de 2024.

Esta tendência política pode significar uma mudança nos direitos das mulheres afastando a União Europeia de uma agenda feminista. 

A um nível nacional, alguns governos na Europa já aprovaram leis que podem colocar as mulheres em situações hóstis. Como é o caso de Itália que aprovou uma lei que permite o acesso de grupos anti-aborto às mulheres que estejam a considerar uma interrupção voluntária da gravidez.

O estudo "Uma Europa feminista?" da Oxfam afirma que "a crescente reação contra a igualdade de género em toda a Europa pode ser vista internamente através do crescente sucesso eleitoral e da representação de grupos populistas de extrema-direita em países como a Suécia, a Itália e a Holanda."

Cecília Francisco Carcelén, uma das três autoras do estudo e especialista em igualdade de género, garante: "O desmantelamento dos direitos das mulheres está no cerne do que defendem os movimentos de extrema-direita."

Em 2022, as mulheres representavam 52% da população dos estados-membros da União Europeia, segundo o Eurostat. Estará o aumento dos votos na extrema-direita a obrigar as mulheres a serem politicamente mais ativas nas eleições europeias de 2024? 

Eleonora del Vecchio, outra das co-autoras do estudo e investigadora em igualdade de género, acredita que "as mulheres que se sentem ameaçadas pela extrema-direita podem envolver-se mais na política", mas só se ainda acreditarem nas instituições e na democracia.

Voto no feminino

Durante muito tempo, a percentagem de abstenção das mulheres em relação à dos homens era muito díspar. Apesar de a diferença da participação de voto ter vindo a diminuir, especialmente a partir das eleições europeias de 2014, com 45% dos homens a dizerem que votariam para 41% de mulheres, a Fundação Robert Schuman conclui que "as mulheres continuam a sentir-se menos envolvidas nas políticas europeias do que os homens".

Um estudo feito pelo Eurobarómetro num cenário pós-eleições europeias em 2019 revelou também que as mulheres estão mais pré-dispostas do que os homens a explicar que não votaram, porque não sabem muito sobre o Parlamento Europeu ou as eleições europeias.

Carcelén reage: "Não é surpreendente que muitas mulheres se sintam desligadas dos políticos (homens), especialmente quando não se referem às suas necessidades quotidianas enquanto mulheres, o que resulta em políticas públicas que não têm em conta o género. Trata-se de um ciclo de feedback alimentado por estereótipos de género."

Já Emma Rainey, outra das co-autoras do estudo da Oxfam e consultora em igualdade de género, sublinha que "para muitas mulheres, as instituições da União Europeia continuam a ser irrelevantes e abstratas para as suas vidas", especialmente após a pandemia em que a sua qualidade de vida diminuiu significativamente e não houve uma resposta concreta "para eliminar o aumento dos encargos".

Para a presidente da ONG Lobby das Mulheres Europeias, Iliana Balabanova, uma das razões para esta indiferença é a pouca representatividade no cenário político. 

Atualmente, não existem dados a nível europeu sobre os diferentes grupos de mulheres dentro desta secção.

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Nós somos diferentes. Temos formações, etnias, religiões e sexualidades diferentes. Somos absolutamente diferentes, mas continuamos a estar muito pouco representadas.
Iliana Balabanova
Presidente da ONG Lobby das Mulheres Europeias

Balabanova acrescenta: "E devo dizer que, dos 33% de mulheres no Parlamento Europeu, temos apenas 17 eurodeputadas de minorias étnicas, o que significa que um grande grupo de nós está pouco representado."

Representação política feminina

Desde que Ursula von der Leyen foi eleita Presidente da Comissão Europeia em 2019, o número de mulheres comissárias subiu de nove para 13 num total de 27 representantes, atingindo o objetivo de igualdade de género no colégio dos membros da Comissão.

Roberta Metsola e Christine Lagarde são outros dos nomes femininos em altos cargos das instituições europeias.

Contudo, a existência de figuras femininas em cargos de topo abre debate para se é o suficiente para garantir a igualdade de género.

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Rainey afirmar que "não há como negar" os progressos significativos para a promoção da igualdade de género desde que von der Leyen é Presidente da Comissão Europeia, mas relembra também que se trata de alguém "muito privilegiada" e cuja realidade está "muito distante das realidades quotidianas da maioria das mulheres".

Eleonora del Vecchio vai mais longe: "uma mulher não faz um defensor da igualdade de género nem uma feminista."

"Roberta Metsola é natural de Malta, um país onde o aborto é ilegal, exceto nos casos em que a vida da grávida está em risco. Num comunicado de imprensa em 2015, a eurodeputada e os seus colegas malteses declararam ser "categoricamente contra o aborto". É sabido que a autonomia do corpo é crucial para o empoderamento das mulheres e que a proibição do aborto tem consequências drásticas, especialmente para as mulheres pobres e migrantes", acrescenta.

Contudo, independentemente da sua ideologia política, as mulheres que decidem ingressar numa carreira política têm de enfrentar a maior exposição à violência dos últimos anos.

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A violência psicológica, física e online à qual ficam expostas pode levá-las a desistirem da política.

Um estudo feito a 2424 participantes em 31 países revela que, após um contacto permanente com este tipo de violência, 21% das mulheres na política tornaram-se menos ativas no debate público, 12% retiraram-se da vida pública e 9% decidiram não voltar a candidatar-se.

Marie-Colline Leroy, atual Secretária de Estado belga para a igualdade de género, oportunidades e diversidade, admite que muitas tentativas para deslegitimar as suas propostas baseam-se no facto de ser mulher.

Todos os ataques de que sou alvo são ataques que têm como objetivo tentar deslegitimar as minhas propostas, descredibilizar o que digo, e sempre com o alvo para a minha identidade de género, o facto de eu ser mulher. Muitas críticas, muitos insultos, comentários sobre a minha aparência que tentam sempre criar um ambiente de medo, um ambiente que é destabilizador.
Marie-Colline Leroy
Secretária de Estado belga para a igualdade de género, oportunidades e diversidade

Contudo, este clima de medo leva a que Iliana Balabanova reinvidique: "Merecemos que a nossa voz seja ouvida. Merecemos que as nossas exigências sejam satisfeitas. Por isso, merecemos o nosso lugar tanto a nível político, cultural e económico como enquanto seres humanos. É isto que nos vai mobilizar verdadeiramente."

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