Os eleitores europeus estão a ficar desanimados com as campanhas de última hora nas redes sociais. A Euronews analisa vários países da UE onde este fenómeno foi observado e averigua se funcionou.
O Parlamento Europeu alertou para o facto de estarem a ser divulgadas campanhas de última hora nas redes sociais com o objetivo de desencorajar as pessoas a votar nas eleições europeias desta semana.
Analisamos alguns exemplos que circulam por todo o bloco e averiguamos se são eficazes.
Itália: ficar em casa
Um movimento abstencionista parece estar a crescer em Itália. Sob as hashtags (etiquetas na tradução para português) #iononvoto (não voto) e #iorestoacasa (fico em casa), milhares de utilizadores da rede social X indicam que não vão participar nas eleições e rejeitam o sistema político. De acordo com um porta-voz do Parlamento Europeu que identificou e denunciou este movimento, o objetivo é dissuadir outros cidadãos de irem às urnas este sábado e domingo.
"É uma narrativa que vimos durante as eleições passadas e que se repete, de que as eleições não seriam livres e justas", disse o porta-voz. De facto, esta hashtag já foi utilizada anteriormente nas eleições nacionais de 2014 e 2022.
Estas mensagens são frequentemente acompanhadas de montagens fotográficas ou em vídeo com o objetivo de ridicularizar os políticos e os partidos. Embora o conteúdo varie, alguns temas recorrentes incluem a rejeição da UE, a hostilidade em relação aos migrantes, a desconfiança em relação às vacinas e a recusa de enviar tropas italianas para ajudar a Ucrânia, sugerindo assim uma possível intervenção russa.
Alemanha: assinalar a caixa (certa)
Os eleitores alemães foram alvo de imagens no TikTok que os instruem sobre a forma de marcar os seus boletins de voto nas eleições europeias. As publicações avisam que uma cruz que caiba dentro do círculo está correcta e será contada, enquanto uma cruz que se estenda para além dos limites está errada e será desqualificada. Segundo alguns relatos, trata-se de uma conspiração contra o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), tal como já tinha escrito a Euronews.
Segundo estas informações falsas, os funcionários eleitorais estariam a verificar se os votos a favor do AfD cabem dentro do círculo e não excedem as margens; caso contrário, serão considerados nulos. No entanto, a lei eleitoral alemã diz que os eleitores podem marcar os seus boletins de voto colocando uma cruz no círculo ou "de outra forma".
Outra questão relacionada com o voto por correspondência causou confusão: algumas mensagens no X afirmam que os boletins de voto com cantos cortados são inválidos. No entanto, isto também é falso. A lei eleitoral alemã estipula que os boletins de voto por correspondência são cortados nos cantos para facilitar a vida às pessoas com deficiência visual.
Espanha e França: Voto nulo
A desinformação nem sempre é organizada a partir do estrangeiro e pode ter origem em iniciativas individuais com intenções humorísticas ou enganadoras. Um grande quantidade de utilizadores espanhóis partilhou com os seus seguidores uma "técnica" que supostamente permite o "voto duplo". Afirmavam que, inserindo dois boletins de voto no envelope e acrescentando uma nota percentual escrita à mão, seria possível dividir o seu voto entre dois partidos.
Este truque não é eficaz, porque torna o voto nulo. As fotografias que acompanham os boletins mostram sempre um voto dividido entre o Partido Popular (PPE) e o Vox (ECR) e provêm de contas de utilizadores que anteriormente apoiavam posições de esquerda - o que indica que pretendem enganar os eleitores de direita.
Em França, enquanto a causa pró-palestiniana é um tema proeminente na campanha do partido de extrema-esquerda La France Insoumise, críticos do partido sugeriram acrescentar um desenho de uma bandeira palestiniana no boletim de voto para mostrar o seu apoio. Esta sugestão enganadora, humorística ou maliciosa, foi denunciada por alguns utilizadores do X, bem como por responsáveis do partido, incluindo o deputado Manuel Bompard, que chamou a atenção para a autora de um dos tweets, acusando-a de tentar "enganar os eleitores". O resultado seriam votos nulos.
Interferência estrangeira
Para além destes esforços internos para espalhar a confusão, a desinformação relacionada com a UE por parte de atores estrangeiros está a atingir os níveis mais elevados de sempre.
O Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO), uma rede independente de verificação de factos, publicou um estudo na terça-feira que mostra que a desinformação sobre as políticas ou instituições da UE representou 15% de todos os casos detetados em maio - o valor mais alto dede que começaram a rastrear a desinformação na UE em 2023.
No entanto, a Meta - que detém o Instagram e o Facebook - afirmou no seu relatório sobre ameaças publicado no final do mês passado que as tentativas maliciosas de influenciar os utilizadores nas suas plataformas se centraram principalmente nas eleições locais e não nas próximas eleições europeias. A gigante tecnológica afirmou não ter detetado qualquer prova de que estes grupos estivessem a ganhar força entre os utilizadores.