Polónia e Bélgica adotam medidas para limitar a desinformação e proteger a segurança nacional, antes das eleições europeias.
A Bélgica e a Polónia são os mais recentes países europeus a adotar medidas para limitar a desinformação e proteger a segurança nacional, à medida que mais governos no velho continente levam a sério a suposta "influência" do Kremlin.
Em Varsóvia, uma comissão especial encarregada de investigar a influência russa e bielorrussa na Polónia iniciou funções na quarta-feira, anunciou o primeiro-ministro polaco Donald Tusk.
Numa conferência de imprensa na capital polaca, Tusk e outros altos responsáveis descreveram a comissão como um corpo apartidário de especialistas cujo objetivo é proteger a segurança nacional.
Em maio, Tusk ordenou a criação de uma comissão para investigar a influência russa e bielorrussa desde 2004 até 2024.
O líder do governo polaco disse que o país está a enfrentar intensificados ataques híbridos da Rússia e da vizinha e aliada Bielorrússia, que incluem supostos atos de sabotagem, ataques cibernéticos e pressão crescente ao longo da fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia.
O Comando Cibernético da Bélgica - que faz parte das forças armadas do país - está em alerta elevado antes das eleições europeias que se realizam entre 6 a 9 de junho.
O Comando Cibernético está encarregado de filtrar conteúdo online ao longo do tempo, a fim de detetar desinformação e alertar as autoridades.
"Procuramos detetar anomalias, como um aumento repentino no número de publicações ou 'retweets' ou gostos sobre um assunto específico", diz um analista sob anonimato que trabalha para o Comando Cibernético da Bélgica.
UE quer escudo contra Moscovo e intromissão de Pequim
Há relatórios que sugerem que a Rússia e a China manipularam o espaço online em eleições anteriores na Europa e noutros cantos do mundo, incluindo nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA.
Essa influência também foi observada durante quase todas as grandes crises nos últimos anos, incluindo a pandemia da Covid-19 e a invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia, mas também em questões domésticas em certos países, com falsas alegações, materiais de propaganda e narrativas inventadas para afetar tudo, desde a crise pela independência catalã de 2017 até ao recente escândalo "Russiagate" no seio do Parlamento Europeu.
No entanto, rastrear estes casos é como se fosse um jogo da apanhada constante, uma vez que os métodos mudam e evoluem ao longo do tempo.
"Estamos interessados em ver as práticas, técnicas e procedimentos usados por agentes estrangeiros para entender e detetar manipulação. Podemos ver que este é cada vez mais o caso", disse o vice-comandante do Comando Cibernético, Pierre Ciparisse.
"As metodologias estão a evoluir. Há cruzamentos entre diferentes redes sociais. E passa pelo uso da inteligência artificial, por técnicas de marketing e pelo uso de influenciadores que são pagos para transmitir certas mensagens", explicou Ciparisse.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mais uma vez deixou clara a gravidade da situação, reiterando a necessidade de um escudo europeu comum contra a desinformação na segunda-feira durante uma visita à Suécia.
O escudo imaginado por von der Leyen teria a tarefa de detetar e remover a desinformação online - com base no trabalho do manual digital da UE, o Digital Services Act (DSA) - e "inocular" o bloco contra a interferência estrangeira, permitindo aos europeus reconhecer essas ameaças.
A presidente da Comissão Europeia falou na proposta em meados de maio pela primeira vez, numa altura em que o bloco se preparava para uma onda de desinformação e interferência na antecipação das eleições europeias de junho.