O tribunal afirmou que a partilha de dados da empresa ASML, fabricante de microchips, com a Rússia é "extremamente grave" e tem consequências para a "segurança e estabilidade internacionais".
Um russo de 43 anos foi condenado nos Países Baixos por violar sanções internacionais, ao partilhar informações sensíveis do fabricante neerlandês de máquinas de semicondutores ASML e de outra empresa tecnológica com uma pessoa na Rússia.
O homem, cuja identidade não foi divulgada, em conformidade com as diretrizes dos Países Baixos em matéria de privacidade, foi condenado, na cidade de Roterdão, a três anos de prisão. Foi absolvido de algumas das acusações, incluindo a de ter recebido um pagamento pelas informações.
"Dar conselhos e partilhar tecnologia com a Rússia é extremamente grave", afirmou o tribunal numa sentença escrita.
"Pode contribuir para reforçar as capacidades militares e estratégicas do país. Isso tem consequências para a Ucrânia e, indiretamente, para a segurança e estabilidade internacionais".
A ASML é um dos principais fabricantes mundiais de máquinas para o fabrico de chips para processadores. A empresa tem um volume de negócios anual de milhares de milhões de euros, graças à sua tecnologia de ponta.
A empresa não reagiu de imediato à decisão.
Segundo o Tribunal de Roterdão, o suspeito partilhou informações sobre a criação de uma linha de produção de microchips na Rússia. Os chips semicondutores têm muitas utilizações, incluindo componentes vitais em equipamento militar, como os drones, que são uma parte fundamental da máquina de guerra de Moscovo na Ucrânia.
O suspeito não demonstrou qualquer emoção ao sair da sala de audiências, depois das suas condenações e sentença terem sido lidas e traduzidas por um intérprete de língua russa, através de um telefone com altifalante. Tem 14 dias para interpor recurso.
No julgamento, a 26 de junho, o suspeito admitiu ter copiado ficheiros no ano passado e tê-los enviado a uma pessoa na Rússia utilizando a aplicação de mensagens Signal.
"Não me perguntei se esses ficheiros podiam ser enviados para a Rússia", disse ele em comentários citados no acórdão. "Sim, eu dei conselhos".
Ciência e tecnologia holandesas no foco dos atores estrangeiros
Nos últimos anos, a ASML tem sido alvo de restrições à exportação - parte de uma política dos EUA que visa restringir o acesso da China aos materiais utilizados para fabricar esses chips.
Esta não é a primeira vez que o setor da alta tecnologia dos Países Baixos é alvo de espionagem.
Em 2020, a agência de informação interna neerlandesa afirmou ter desmascarado dois espiões russos que agiam no setor científico e tecnológico dos Países Baixos.
Um dos espiões procurava informações sobre inteligência artificial (IA), semicondutores e nanotecnologia, disse a agência na altura.
"Esta tecnologia tem aplicações civis e militares, incluindo em sistemas de armamento", acrescentou.