As pastas com impacto económico são as mais cobiçadas pelos 27 Estados-membros da UE no que diz respeito à nova equipa de Ursula von der Leyen. Até sexta-feira, todos os governos deverão anunciar os seus nomeados para a Comissão Europeia. Von der Leyen enfrenta negociações desafiantes.
As políticas em que a Comissão Europeia tem fortes competências sempre foram as mais atrativas do ponto de vista dos governos dos Estados-membros quando têm de nomear os seus candidatos para o executivo europeu, como mostra o "tracker" da Euronews.
Esta é uma forma de tentar exercer mais influência na coordenação global da União Europeia, dizem os analistas, que dão o exemplo do Orçamento como um dos maiores prémios nas negociações com Ursula von der Leyen para formar o seu segundo executivo.
“Temos o Quadro Financeiro Plurianual para ser negociado no próximo mandato. Este será um dossiê muito difícil e muito pesado, mas determinará em grande medida quais são as prioridades dos próximos anos", explicou Janis Emmanouilidis, analista político do Centro de Política Europeia (EPC), em entrevista à Euronews.
Os líderes da Itália, dos Países Baixos, da Finlândia, da Chéquia e da Roménia são alguns dos que afirmaram, claramente, querer uma pasta económica. A França irá provavelmente manter uma pasta forte, uma vez que se espera que Thierry Breton, que é agora comissário para o Mercado Interno, obtenha um segundo mandato.
“Há sempre um grande interesse pela Concorrência e pelo Comércio, áreas onde a UE tem muita competência”, afirma Sophia Russack, analista política do Centro de Estudos de Política Europeia (CEPS), à Euronews.
“O mesmo se aplica àquelas que têm um impacto particularmente elevado no orçamento, por exemplo, os fundos de coesão e da agricultura que, em conjunto, representam cerca de um terço de todo o orçamento da UE”, acrescentou.
Novas pastas em jogo
Nestes "jogos de poder", Ursula von der Leyen pode também recorrer à Defesa, uma nova pasta dedicada à indústria militar, vista como muito relevante devido à guerra na Ucrânia.
A pasta das Relações com o Mediterrâneo, ligada à gestão da migração, e a da Habitação são também novas e terão comissários dedicados.
No “puzzle” ou “jogo de xadrez” para designar os vice-presidentes executivos, von der Leyen terá, ainda, de ter em conta quais os partidos políticos que lhe deram apoio durante a confirmação no Parlamento Europeu (em julho).
“Podemos assumir que mais uma vez - dado que ela é do PPE, o Partido Conservador - deverá haver um político Socialista, um Liberal e, potencialmente, um Verde, entre os cargos de topo da Comissão”, diz Emmanouilidis.
A Itália, a terceira maior economia da UE, ainda não indicou oficialmente o seu candidato e a primeira-ministra, Giorgia Meloni, absteve-se quando o Conselho Europeu votou a favor da reeleição de von der Leyen, um sinal de que o "cordão sanitário" contra a extrema-direita se manteria.
De facto, os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), ao qual pertence o partido de Meloni (Irmãos de Itália), tornaram-se o 4º maior grupo político no Parlamento Europeu e votaram contra a confirmação de Ursula von der Leyen. A pasta que a Itália obterá é um dos temas mais quentes na arena política de Bruxelas.
A questão do género
Outro trunfo a utilizar nas negociações com os governos da UE é a indicação de nomes femininos, uma vez que a Presidente está a ter dificuldades em alcançar o equilíbrio de género que teve na equipa 2019-2024, com menos de 10 mulheres nomeadas, oficialmente, até ao momento.
"Ela pode argumentar que se o país oferecer um candidato muito bom, então também lhe pode oferecer uma pasta muito interessante. Existem estes tipos de acordos de bastidores que podem ser feitos para pressionar os Estados-membros. Portanto, é uma mistura de género, questões políticas e geográficas, um acordo muito complexo de implementar”, reforça Emmanouilidis.
Esta quarta-feira, Portugal nomeou a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, mas a Dinamarca anunciou um nome masculino - Dan Jørgensen, antigo ministro do Clima e Energia.
"A questão do género é também um sinal dos tempos que vivemos. O próprio Parlamento é, atualmente, composto por menos mulheres do que era no passado, nem sequer 40%. Mas também temos de dizer que em alguns países existem procedimentos internos (específicos). Por exemplo, o Parlamento e/ou o Presidente têm de concordar com a escolha do primeiro-ministro", afirma Russack.
Após receber todos os nomes, Ursula von der Leyen irá realizar entrevistas individuais e apresentar a seleção final ao Parlamento Europeu, que levará a cabo audições com os 26 candidatos. Caso alguns sejam rejeitados, deverão ser apresentados novos nomes até que toda a equipa seja aprovada em plenário.