Ataques de Paris: Vítimas e muçulmanos

Entre as 129 vítimas mortais dos ataques no centro de Paris e no Estádio de França, cidade de Saint-Denis, contam-se duas irmãs que celebravam o seu aniversário, um arquiteto promissor, um músico cheio de talento e um artesão.
Quem a matou não pode considerar-se como uma pessoa religiosa.
Que tinham todas estas pessoas em comum? O facto de serem de confissão muçulmana ou maometanos, como também se lhes chama, ou ainda o facto de terem as suas origens, ou parte das mesmas, em países de maioria muçulmana.
Convém recordar que o autoproclamado Estado Islâmico (EI) ou Daesh, pelas suas siglas em língua árabe, reclamou a total responsabilidade pelos ataques do passado dia 13 de novembro, dizendo que “A França e todos os países que seguem o seu exemplo deveriam saber que iriam continuar no topo da lista de Daesh (…) enquanto mantivessem a sua guerra contra o Islão em território francês e os ataques contra muçulmanos no Califado com os seus aviões.”
Mas a realidade é mais complexa. Isto porque qualquer ataque indiscriminado e contra civis em França será também um ataque contra os muçulmanos de França, uma das maiores comunidades na Europa (cerca de 5 milhões de pessoas, ou seja, 7,5% da população francesa), de acordo com dados do centro de investigação Pew”:http://www.pewresearch.org/fact-tank/2015/11/17/5-facts-about-the-muslim-population-in-europe/.
Uma realidade confirmada pelo Coletivo Contra a Islamofobia em França, o CCIF.
Yasser Louati, porta-voz do CCIF, diz que “Daesh tem vindo a assassinar, ao longo dos últimos anos, milhares de pessoas no norte de África e no Médio Oriente.”
“A única diferença é que agora começaram a matar muçulmanos em território Francês,” continuou. “É apenas um pretexto para justificar a sua forma de agir. Vejam bem o tipo de ataques que levam a cabo. Não há luz ao fundo do túnel.”
Uma visão sustentada por um estudo publicado em setembro pelo Centro Internacional para o Estudo da Radicalização”:http://icsr.info/wp-content/uploads/2015/09/ICSR-Report-Victims-Perpertrators-Assets-The-Narratives-of-Islamic-State-Defectors.pdf, (ICSR, pelas siglas em inglês), que indica que uma das maiores razões para a deserção por parte dos jihadistas de Daesh é o facto de que muitos ataques terminam com a morte de muçulmanos sunitas, que professam a mesma que religião que os combatentes.
Aqui ficam as histórias de alguns deles, franceses e estrangeiros que tinham decidido sair à noite, em Paris, numa sexta-feira como tantas outras:

Huda Saadi, 35 anos
Era empregada de mesa e tinha origens tunisinas.
Celebrava o seu aniversário na esplanada do bar _La Belle Equipe_quando os terroristas decidiram atacar.
Foi uma das 19 vítimas do ataque.
“Quem a matou não pode considerar-se como uma pessoa religiosa” disse Bachir, um dos seus irmãos, ao diário francês Le Parisien.
“Na nossa família, todos trabalhamos. E sempre fomos um exemplo do que é a integração” concluiu.

Halima Saadi, 37 anos
Halima tinha dois filhos e encontrava-se com a sua irmã Huda na esplanada do café, o mesmo onde o seu irmão Khaled trabalhava.
Em entrevista a um canal de informação francês, Khaled disse que os terroristas “chegaram de repente de dispararam contra todos os que se encontravam na esplanada.”
“Mataram toda a gente, incluindo as minhas irmãs.”

Djamila Houd, 41 anos
Outra das vítimas que se encontravam no La Belle Equipe, Djamila morreu nos braços de Grégory, o seu marido.
“Segurei a mão dela, mas não sobreviveu,” disse Grégory ao canal de televisão France 2.
Djamila tinha uma filha de 8 anos e trabalhava numa loja de roupa.

Amine Ibnolmobarak, 29 anos
Amine era arquiteto e cresceu em Marrocos, tendo depois vindo para França estudar.
Morreu no bar Le Carrillon junto da sua mulher, com quem se tinha casado no verão, segundo a AFP.

Kheireddine Sahbi, 29 anos
Kheireddine, ou Didine,para os amigos, foi assassinado quando voltava para casa depois de uma saída com os amigos.
Tinha 29 anos, tocava violino tinha deixado o seu país, a Argélia, para estudar na Sorbonne.