A polícia da Malásia revelou esta sexta-feira que Kim Jong-Nam, o meio-irmão do líder norte-coreano, foi assassinado com um químico denominado VX, classificado como uma “arma de destruição maciça” pel
A polícia da Malásia revelou esta sexta-feira que Kim Jong-Nam, o meio-irmão do líder norte-coreano, foi assassinado com um químico denominado VX, classificado como uma “arma de destruição maciça” pela ONU.
A confirmar-se o resultado da autópsia tratar-se-à da primeira vez que esta arma química militar é utilizada num assassínio, quando as autoridades da Malásia prosseguem a investigação ao ataque mortal de 13 de fevereiro no aeroporto de Kuala Lumpur.
BREAKING: chemical weapon - VX nerve agent - used on man believed to be #KimJongNampic.twitter.com/udGCjPYiZT
— Sumisha Naidu (@SumishaCNA) February 24, 2017
100 vezes mais potente que o gás sarin
O VX ou S-2 Diisoprophylainoethyl methylphosphonothiolate é um líquido oleoso de côr âmbar, insípido e inodoro, cuja ação sobre o sistema nervoso humano é considerada 100 vezes mais nociva do que o gás sarin. Segundo os especialistas, a dose letal da substância varia entre 10 miligramas, através do contacto com a pele, a 25 a 30 miligramas, caso seja inalado.
Enquanto arma química, o VX pode ser disseminado por spray ou vapor, penetrando a pele humana de forma a interromper a transmissão de impulsos nervosos. O produto pode ser absorvido pelo corpo por inalação, ingestão ou contacto com a pele e os olhos, provocando convulsões musculares. Uma única gota do agente em contacto sobre a pele pode causar a morte, habitualmente por asfixia ou paragem cardíaca.
VX acts as an acetylcholinesterase inhibitor in the synapse; prolonging depolarisation at the sub-junctional endplate sarcoplasm #MedTweetspic.twitter.com/aBJQuZXLWt
— Alex Grant (@alexgrant947) February 24, 2017
Segundo a polícia da Malásia, Kim Jong-nam teria morrido a caminho do hospital, cerca de duas horas após ter sido aspergido com o líquido, no átrio do aeroporto.
Pelo menos três pessoas foram detidas até ao momento, no quadro da investigação. Entre os suspeitos encontram-se as duas mulheres que abordaram Kim, uma lançando-lhe um líquido à cara antes de outra passar um lenço no rosto da vítima.
A polícia suspeita de que as atacantes, de nacionalidades indonésia e vietnamita, poderiam ter utilizado a combinação de dois componentes diferentes para criar o agente mortal.
Uma das mulheres teria adoecido logo após o ataque, com sintomas semelhantes ao do evenenamento por VX. Em alguns casos, a substância pode permanecer ativa durante cerca de 30 minutos, podendo expor outras pessoas.
O único antídoto para este tipo de envenamento é a atropina, injetada após a exposição, e que habitualmente faz parte das farmácias dos hospitais de campanha em zonas de guerra.
If you're wondering what VX is and how it kills @compoundchem covered this some time ago. Kim Jong-namhttps://t.co/PzDTrPnnnFpic.twitter.com/QjpB9kPZX5
— David Bradley (@sciencebase) February 24, 2017
Uma pista norte-coreana?
As autoridades da Malásia tentam agora apurar a origem do veneno, quando apenas dois países do mundo – a Rússia e os EUA – declararam possuir estoques de VX.
A substância, inicialmente desenvolvida pelo exército britânico nos anos 50, encontra-se, no entanto, proibida desde 1993 pela Convenção de Armas químicas, que não foi assinada por países como a Coreia do Norte, o Egito e o Sudão.
Segundo o ministério da Defesa da Coreia do sul, Pyongyang possui fábricas de produção de armas químicas não declaradas em pelo menos oito regiões do país e contará com entre 2.500 e 5.000 toneladas de estoque deste tipo de agentes, incluindo o VX.
A Malásia tenta agora apurar a possível implicação de Pyongyang neste assassínio. Entre os três suspeitos detidos, um é de nacionalidade norte-coreana. A polícia tenta igualmente contatar quatro homens que teriam abandonado o país, para regressarem a Pyongyang, no mesmo dia do crime. Um quinto homem, um diplomata norte-coreano, também poderá ser interrogado no quadro da investigação quando algumas fontes apontam para a possibilidade do agente químico ter entrado na Malásia numa mala diplomática, um sistema habitualmente utilizado pelo regime de Pyongyang para contrabandear vários produtos.