Euroviews. Itália quer proibir a produção de carne em laboratório

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Ainda não há estudos suficientes para saber se a carne feita em laboratório é 100% segura.

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A Itália quer proibir a produção de carne em laboratório. Durante a apresentação do projeto de lei ao Senado Italiano, o ministro da Agricultura e Soberania Alimentar, Francesco Lollobrigida, afirmou que a produção de carne em laboratório penaliza os pequenos produtores, causa danos ao meio ambiente, uniformiza os hábitos alimentares e pode prejudicar a saúde.

A carne produzida em laboratório é má para a saúde?

Ainda não há estudos suficientes para saber se a carne feita em laboratório é 100% segura. Em 2020, Singapura foi o primeiro país a autorizar o consumo humano de carne cultivada. A prática foi autorizada pela Food and Drug Administration nos Estados Unidos em novembro de 2022.

Na União Europeia (UE), a questão não é alvo de estudos, mas a Autoridade de Alimentos e Segurança da UE afirma que se trata de uma “solução promissora” para alcançar as metas ambientais.

A UE já concedeu milhões de euros em fundos de investigação a empresas como a BioTech Foods, a Nutreco e a Mosa Meat.

Qual será o impacto da produção de carne sintética para os agricultores locais em Itália?

A carne cultivada em laboratório ainda não está nas prateleiras dos supermercados, nem nas ementas dos restaurantes. De qualquer modo, os italianos não parecem recetivos à ideia. Segundo uma sondagem recente, 84% dos inquiridos garantem que nunca vão experimentar bifes feitos em laboratório.

Mas os agricultores locais estão preocupados e juntaram-se à Organização Mundial dos Agricultores para lançar uma petição global contra a carne cultivada, descrita como "alimento Frankenstein". A petição é apoiada por numerosas autoridades locais, principalmente nas regiões produtoras de carne. E obteve o apoio de clérigos, preocupados com "a saúde dos fiéis".

No entanto, todos esses esforços poderão ser deitados por terra. Se a UE aprovar os alimentos cultivados em laboratório, o projeto de lei italiano não será suficiente para mantê-los "longe da mesa dos italianos", como prometeu o ministro da Agricultura da Itália. A lei italiana poderá proibir as empresas italianas de produzir carne em laboratório, mas não poderá impedir que empresas estrangeiras exportem esse tipo de produtos para a Itália.

Para a oposição, a proibição do cultivo de carne em laboratório não é uma boa ideia porque pode criar uma desvantagem competitiva para as empresas italianas, em vez de protegê-las.

Será que a carne de laboratório é má para o meio ambiente?

A carne é cultivada a partir de biorreatores ou fermentadores, concebidos para "fornecer um ambiente eficaz para enzimas ou células inteiras transformarem bioquímicos em produtos".

Um processo que necessita de "muita energia. Se essa energia não vier de fontes renováveis, o impacto ambiental pode ser mais ou menos significativo”, disse à euronews segundo Bruno Cell, responsável de uma start-up italiana que faz investigação sobre carne cultivada em laboratório.

Por outro lado, os alimentos produzidos em laboratório precisam de muito menos água e solo do que a carne tradicional, o que permite reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a desflorestação. E finalmente, a carne de laboratório elimina a necessidade de abater animais e de criar gado em regime de produção intensiva.

Será que há uma grande diferença entre carne cultivada e carne tradicional?

"A carne cultivada é feita a partir das mesmas células dos animais", diz Bruno Cell. "O produto-base é 100% célula animal. Os tecidos são os mesmos, têm as mesmas características organolépticas e, quando esses tecidos são cultivados, recebem teoricamente a mesma alimentação que os animais. Por isso, a chamada carne artificial não é tão artificial como parece. Este projeto de lei diz basicamente que tudo o que não vem diretamente da terra é perigoso. Isso só vai limitar o progresso da investigação sobre carne artifiicial em Itália", considerou o responsável.

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