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Afinal, o Halloween não tem origem nos EUA. É europeu

Casa Branca decorada com abóboras para o Dia das Bruxas, 30 de outubro de 2025
Casa Branca decorada com abóboras para o Dia das Bruxas, 30 de outubro de 2025 Direitos de autor  Copyright 2025 The Associated Press. All rights reserved
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De Jesús Maturana
Publicado a Últimas notícias
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A noite de 31 de outubro tornou-se uma das celebrações mais populares do mundo. Embora hoje a associemos aos Estados Unidos, o Halloween tem as suas raízes nas antigas tradições celtas europeias, chegando depois ao continente americano com os imigrantes irlandeses do século XIX.

Ao contrário da crença popular, a palavra Halloween tem raízes cristãs. Tem origem na forma escocesa "All Hallows' Eve" (véspera de Todos os Santos), onde "even" significa noite, em escocês, e que foi encurtada com o tempo até se tornar Halloween. Esta festividade está profundamente ligada às celebrações cristãs do Dia de Todos os Santos (1 de novembro) e de Finados (2 de novembro), conhecidas coletivamente como "Allhallowtide".

No entanto, estas festas cristãs sobrepuseram-se à antiga celebração celta de Samhain, que significa "fim do verão". Os celtas das Ilhas Britânicas celebravam este ritual que marcava a transição entre a época das colheitas e o inverno sombrio. Durante esta noite mágica, acreditavam que o véu entre o mundo dos vivos e o dos mortos se tornava mais fino, permitindo que os espíritos atravessassem os dois mundos. Para se protegerem, acendiam grandes fogueiras comunitárias que afugentavam as entidades maléficas.

A Igreja cristã, a partir do século VIII, instituiu o dia 1 de novembro como Dia de Todos os Santos. O Papa Gregório III fundou um oratório em São Pedro dedicado a todos os santos e mártires e, por volta do ano 800, as igrejas da Irlanda e da Nortúmbria já celebravam a festa. Em 835, tornou-se uma data oficial no Império Franco. Alguns historiadores sugerem que esta data foi escolhida devido à influência celta ou germânica, uma vez que ambas as culturas comemoravam os mortos no início do inverno, uma época de "morte" na natureza.

A viagem transatlântica: da Irlanda para a América

A tradição do Halloween atravessou o Atlântico entre 1845 e 1849, durante a devastadora Grande Fome na Irlanda. Milhares de irlandeses emigraram para os Estados Unidos, levando consigo os seus costumes ancestrais. O que começou por ser uma tradição regional europeia tornou-se, ao fim de quase dois séculos, a festividade não religiosa mais popular da América do Norte, de onde voltou a espalhar-se por todo o mundo.

Essa migração em massa não transferiu apenas uma celebração, mas todo um imaginário cultural repleto de símbolos e rituais que se adaptaram ao novo continente, fundindo-se com outras influências e evoluindo até ao Halloween moderno que conhecemos hoje.

As tradições e os seus significados

As abóboras iluminadas eram originalmente nabos

A icónica abóbora esculpida tem as suas origens na lenda irlandesa de Jack-o Lantern, um agricultor bêbado que conseguiu enganar o diabo duas vezes. Quando Jack morreu, não pôde entrar nem no céu, pelos seus pecados, nem no inferno, por causa do seu pacto diabólico.

Abóbora com um chapéu
Abóbora com um chapéu Pexels

Condenado a vaguear eternamente, o diabo deu-lhe um carvão em brasa que Jack colocou dentro de um nabooco para se iluminar. Na América, os nabos foram substituídos por abóboras, que eram mais abundantes e mais fáceis de esculpir.

Os disfarces

O uso de disfarces não é uma invenção moderna. Os celtas vestiam peles de animais e máscaras assustadoras para confundir os espíritos malignos que, segundo acreditavam, caminhavam entre eles durante o "Samhain".

Homem mascarado no Dia das Bruxas na Roménia, 25 de outubro de 2025
Homem mascarado no Dia das Bruxas na Roménia, 25 de outubro de 2025 Associated Press

Se os mortos não conseguissem distinguir os vivos, não poderiam fazer-lhes mal. Esta prática ancestral perdurou até se tornar um dos elementos mais divertidos das celebrações atuais.

Doçura ou travessura, origem medieval do "souling"

Esta tradição tem as suas raízes no costume cristão do "souling", que remonta ao século XV e se espalhou pela Inglaterra, País de Gales, Flandres, Baviera e Áustria. Durante o "Allhallowtide", grupos de pessoas mais carenciadas, muitas vezes crianças, iam de porta em porta recolher "biscoitos da alma" em troca de orações pelos defuntos, especialmente pelas almas dos amigos e familiares daqueles que faziam a oferta.

Estes biscoitos ostentavam geralmente uma cruz, indicando que eram cozinhados como esmola. William Shakespeare menciona este costume na sua comédia "Os Dois Cavalheiros de Verona" (1593). Na Itália do século XIX, os párocos iam de casa em casa pedir pequenas ofertas de alimentos para partilharem entre si durante essa noite.

A prática moderna da "doçura ou travessura" tornou-se popular nos Estados Unidos na década de 1950, quando uma família da Pensilvânia a utilizou para uma campanha solidária da UNICEF, recolhendo doces e alimentos para crianças carenciadas.

Donald e Melania Trump na Casa Branca a oferecer doces às crianças no Dia das Bruxas
Donald e Melania Trump na Casa Branca a oferecer doces às crianças no Dia das Bruxas Associated Press

As luzes e as fogueiras

Na Irlanda, na Flandres, na Baviera e no Tirol do século XIX, acendiam-se velas nas habitações no Dia de Todos os Santos, chamadas "luzes da alma", que serviam "para guiar as almas de volta às suas casas terrenas". Também se acendiam velas nas campas, costume que se mantém atualmente em muitos países.

Velas, fogueiras e iluminação no Dia das Bruxas, 2024, Reino Unido
Velas, fogueiras e iluminação no Dia das Bruxas, 2024, Reino Unido Associated Press

Na zona rural católica de Lancashire, nos séculos XVIII e XIX, as famílias reuniam-se nas colinas na véspera do Dia de Todos os Santos, segurando feixes de palha em chamas, enquanto os restantes rezavam pelas almas dos familiares e amigos. Este costume era conhecido como "teen'lay". Os Celtas também utilizavam grandes fogueiras para afugentar os espíritos malignos durante o "Samhain".

Símbolos e superstições

O Halloween está repleto de símbolos com significados profundos. As corujas, aves noturnas associadas à sabedoria, eram utilizadas como amuletos de boa sorte. Os gatos pretos, por outro lado, representavam um mau presságio: durante a Idade Média eram queimados porque se acreditava que eram bruxas reencarnadas. Os supersticiosos recomendam dar sete passos para trás se encontrar um gato preto.

Os gatos pretos são um dos símbolos do Dia das Bruxas
Os gatos pretos são um dos símbolos do Dia das Bruxas Jean Macklin/AP

Fogueiras, nabos transformados em lanternas, máscaras aterradoras? Cada elemento do Halloween conta uma história que liga o presente a um passado europeu cheio de magia, medos antigos e o eterno fascínio humano pelo desconhecido.

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