Poluição sonora marinha preocupa classe científica

Em parceria com The European Commission
Poluição sonora marinha preocupa classe científica
Direitos de autor Image courtesy of the Laboratory of Applied Bio-Acoustics (LAB), Universitat Politècnica de Catalunya — BarcelonaTech
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De  Denis Loctiereuronews
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Estudos sugerem que o ruído provocado pela atividade humana afeta toda a cadeia alimentar nos oceanos

"O oceano tem muito para nos dizer. Não é silencioso. Na verdade, há bastante ruído. Há muitos sons de animais, claro... mas também sons de humanos".

Lucia Di Iorio é a bioacústica que lidera um estudo no âmbito dos projectos internacionais de investigação "TREC" e "BIOcean5D” para captar as paisagens sonoras subaquáticas ao longo das costas europeias e não esconde a preocupação pela crescente interferência humana nos sons marinhos.

Os registos sonoros, juntamente com as amostras genéticas, ajudam os cientistas a compreender melhor os "hotspots" de biodiversidade marinha, como aquele visitado pela euronews na costa da Bretanha:

"Aqui ouvimos principalmente as ervas marinhas e as algas. São viveiros - crescem aqui pequenos peixes e pequenas larvas. Protegem da erosão, produzem oxigénio, armazenam carbono e desempenham uma série de papéis importantes nos ecossistemas.

Nas florestas de algas, como se trata de um ambiente rochoso, há muitos camarões, que fazem um som característico. Depois ouvimos alguns sons de frequência muito baixa. São sons de peixes e são usados para comunicação."

No entanto enquanto falamos, passam vários navios nas proximidades. Como é que este ruído artificial afeta o ecossistema? Lucia Di Iorio responde:

“O tráfego de barcos vai afetar a comunicação dos animais. É como se vivêssemos junto a uma autoestrada, ou a uma estrada movimentada, e os carros estivessem sempre a passar - é irritante! É incómodo para nós mas também é incómodo para os animais que vivem nesse ambiente”.

Problema afeta toda a cadeia alimentar

Os cientistas estão cada vez mais alarmados com a poluição sonora submarina, que coloca uma pressão adicional sobre a fauna marinha, já ameaçada pela atividade humana. Há cada vez mais provas de que a poluição sonora pode afetar uma vasta gama de animais marinhos e até de plantas.

Lucia Di Iorio está a conduzir uma experiência em laboratório para perceber se o som subaquático pode afetar o fitoplâncton. Se estes organismos microscópicos também forem afetados pelo ruído, isso significa que as consequências da poluição sonora podem repercutir-se em toda a cadeia alimentar, afetando organismos desde criaturas marinhas minúsculas até aos gigantes do mar.

Há muito que se sabe que os sons subaquáticos são fundamentais para as baleias e os golfinhos se orientarem, localizarem comida e comunicarem. É por isso que investigadores como Michel André têm privilegiado, até há pouco tempo, os mamíferos marinhos.

O diretor do Laboratório de Bioacústica Aplicada na Universidade Politécnica da Catalunha explica que a investigação efectuada nos últimos 10 anos aumentou consideravelmente a compreensão do problema:

"Descobrimos que outras espécies, nomeadamente invertebrados, como os cefalópodes, os crustáceos, as medusas, os recifes de coral - milhares e milhares de espécies - estavam a sofrer provavelmente mais do que os cetáceos. E isto mudou totalmente a forma de abordar os efeitos do ruído no ambiente marinho".

É agora evidente que os efeitos nocivos da poluição sonora no oceano vão muito para além dos golfinhos e das baleias e, para resolver eficazmente este problema, é necessária uma monitorização global contínua do ruído subaquático.

Com base nos resultados do projeto de investigação europeu "LIDO" ("Listening to the Deep-Ocean Environment"), o laboratório de Michel André instalou uma vasta rede de estações acústicas marinhas.

O ruído gerado pelo homem, proveniente do transporte marítimo, da construção de parques eólicos, de operações industriais ou militares, cria um "nevoeiro acústico" submarino que pode desorientar os animais marinhos.

De acordo o investigador, os observatórios acústicos autónomos poderiam identificar e alertar as fontes de ruído, instando-as a manter o silêncio:

"A poluição sonora ameaça o equilíbrio do oceano e temos de tomar medidas para inverter estes efeitos negativos que introduzimos sem percebermos que estávamos a contaminar o oceano com sons."

Cientistas procuram solução para o problema

Mas como reduzir o ruído quando a navegação global está a aumentar? O rio Elba, que serve o porto de Hamburgo, na Alemanha, é uma movimentada rota de navegação que passa junto a bancos de areia onde há uma grande população de focas.

Esta proximidade permite aos cientistas observar como estes animais reagem ao ruído e sugerir formas para tornar os navios mais silenciosos.

Os animais são sinalizados com etiquetas eletrónicas que caem passado algum tempo e registam os movimentos e o nível de ruído à sua volta. Nesta zona do rio, as focas dependem do som para apanhar as presas porque a visibilidade na água é fraca.

Os dados das etiquetas sugerem que as focas são perturbadas por grandes navios. O ruído das hélices e dos motores parece interromper a caça e faz com que mergulhem sem descanso entre o leito do rio e a superfície.

O desafio agora passa por usar esta informação para tornar os navios mais silenciosos. Joseph Schnitzler, investigador do Instituto de Investigação da Vida Selvagem Terrestre e Aquática, sugere que a solução pode passar por "uma mistura de soluções técnicas, como a alteração do design da hélice” com “alterações funcionais, como a redução da velocidade dos navios ou o redirecionamento de uma faixa de navegação".

Os cientistas do projeto europeu SATURN estão a explorar aspectos biológicos e de engenharia para ajudar a reduzir o ruído, diminuindo assim um dos muitos impactos humanos nocivos no oceano.

Schnitzler acredita que há razões para estar otimista:

"Temos aqui a oportunidade de mudar rapidamente, o que não é possível com a poluição química ou com os detritos de plástico, os microplásticos nos mares. As soluções estão muito próximas, podemos agarrá-las quase de imediato".

Editor de vídeo • Jean-Christophe Marcaud

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