UE pede mais pontos de entrada para "aumento exponencial" da ajuda a Gaza

Palestinianos descarregam caixas de medicamentos de um camião que chegou ao Complexo Médico Nasser, como parte do lote de ajuda que entrou em Gaza pela passagem de Rafah, 23 de outubro de 2023.
Palestinianos descarregam caixas de medicamentos de um camião que chegou ao Complexo Médico Nasser, como parte do lote de ajuda que entrou em Gaza pela passagem de Rafah, 23 de outubro de 2023. Direitos de autor AP Photo/Mohammed Dahman
Direitos de autor AP Photo/Mohammed Dahman
De  Alice TideyIsabel Marques da Silva
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Artigo publicado originalmente em inglês

O comissário europeu para a Ajuda Humanitária, Janez Lenarčič, advertiu, terça-feira, que o apoio aos civis na Faixa de Gaza deve ser intensificado "exponencialmente", instando todas as partes a abrir outros pontos de entrada no enclave palestiniano.

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"Quero apelar a um acesso seguro e sem restrições à ajuda humanitária a todas as pessoas em Gaza, onde quer que estejam e que precisem dessa ajuda", disse Janez Lenarčič à imprensa, que acompanhou a operação de carga de um avião egípcio com ajuda humanitária coordenada pela Comissão Europeia, no aeroporto de Ostende, na Bélgica.

"A situação humanitária na Faixa de Gaza é dramática e catastrófica. É necessário aumentar exponencialmente a quantidade de ajuda humanitária", referiu o comissário no dia em que se assinala um mês do ataque do movimento palestiniano Hamas em território de Israel.

 O ataque de 7 de outubro causou a morte de 1400 israelitas e o rapto de mais 200. Em represália, Israel cercou o enclave palestiniano de mais de 2,2 milhões de habitantes e lançou uma pesada campanha de bombardeamentos que matou, até agora, mais de dez mil civis, metade dos quais crianças, segundo as autoridades locais lideradas pelo Hamas.

"O direito internacional exige que todas as partes envolvidas em qualquer conflito armado, incluindo este, garantam o acesso seguro e irrestrito à ajuda humanitária", recordou o responsável pela coordenação da ajuda humanitária e proteção civil.

"Esta é a obrigação legal internacional, que inclui a abertura do número necessário de pontos de entrada para garantir que a ajuda humanitária possa entrar na Faixa de Gaza em quantidade suficiente", acrescentou.

Atualmente, é possível fazer entrar ajuda em Gaza através da fronteira com o Egito, na cidade de Rafah, mas poderiam ser utilizadas duas passagens a partir de Israel que estão fechadas (Erez e Karem Shalom).

A ponte aérea funcionará "enquanto for necessário"

A Organização das Nações Unidas  (ONU) estimaque são necessários 1,2 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) para prestar os serviços humanitários durante as hostilidades em curso. 

A ajuda humanitária tem entrado na Faixa de Gaza a um ritmo lento, com pouco mais de 570 camiões a atravessar o enclave desde 21 de outubro, em comparação com os cerca de 500 que o faziam diariamente, antes da última escalada. 

Em resposta à crise, a UE quadruplicou o seu apoio humanitário a Gaza e à Cisjordânia para 100 milhões de euros este ano e lançou uma ponte aérea para transportar os tão necessários abastecimentos para o Egipto, que controla a única fronteira terrestre aberta para Gaza, Rafah.

O avião que partiu de Ostende, na terça-feira, foi o oitavo desde o início da operação da ponte aérea, há três semanas, e o último da lista atual. Lenarčič disse, no entanto, que "continuaremos com esta ponte aérea enquanto for necessário".

O voo transportava 45 toneladas de medicamentos, equipamento médico e géneros alimentícios.

Pierre Tripont, gestor de logística da Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária da Comissão Europeia, disse à Euronews que tudo o que é enviado é primeiro aprovado pelas sociedades do Crescente Vermelho egípcio e palestiniano.

O Crescente Vermelho egípcio é a única organização mandatada pelo governo do Cairo para tratar da ajuda humanitária que entra no país com destino a Gaza e que depois é entregue ao seu homólogo palestiniano, via passagem de Rafah.

"Recebemos listas de produtos que são necessários e, mesmo quando temos pedidos - porque também temos Estados-membros (da UE) que nos dizem que querem doar este ou aquele tipo de produto -, comunicamos isso ao Crescente Vermelho egípcio e ao Crescente Vermelho palestiniano para obtermos primeiro a sua aprovação e validação de que esses produtos são efetivamente necessários. Depois podemos enviá-los", afirmou Tripont.

"A ideia é conseguir criar um fluxo coordenado de produtos para Gaza e não entupir as zonas logísticas com produtos que ainda não são necessários", acrescentou.

Falta dolorosa de combustível

Mas um produto que ainda não está a chegar a Gaza é o combustível, que Israel está a bloquear por receio de que o Hamas o utilize para alimentar novos ataques contra o país.

Lenarčič apelou ao levantamento deste bloqueio, alertando para o facto de que "o combustível é desesperadamente necessário" na Faixa de Gaza para alimentar os hospitais, as centrais de dessalinização de água e as padarias.

Jamie LeSueur, diretor de operações de emergência da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, disse à Euronews que dois dos hospitais geridos pela organização dependem de combustível para funcionar.

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"Estamos a ouvir falar de pacientes que poderão ter de ser retirados dos principais sistemas de suporte de vida porque não há acesso a combustível. A nossa organização está a trabalhar, arduamente, para manter e racionar, mas no final do dia, se não tivermos acesso livre, estaremos em grandes apuros", disse.

O abastecimento do hospital de Al-Quds é também dificultado pela sua localização, no norte da Faixa, que tem sido o alvo da maior parte da intervenção militar de Israel. Os camiões humanitários, disse LeSueur, "têm acesso principalmente ao sul" e chegar à parte norte é "um grande desafio".

"Em última análise, as estradas estão inoperacionais. Há operações em curso", afirmou.

A ideia de criar um corredor marítimo que poderia ser operado a partir de Chipre, o Estado-membro da UE mais próximo da Faixa de Gaza, foi apoiada pela França e pela Grécia no final do mês passado. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse na segunda-feira que seu executivo está a analisar a viabilidade do projeto.

No entanto, Lenarčič observou que, embora a ideia esteja a ser analisada com interesse, "o problema do corredor marítimo é que, neste momento, não existe um porto em funcionamento na Faixa de Gaza. Por isso, isto teria de ser resolvido de alguma forma".

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