Ilha artificial ao largo de Gaza apresentada por ministro israelita é "irrelevante"

O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, à direita, fala com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, no edifício do Conselho Europeu em Bruxelas, a 22 de janeiro de 2024.
O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, à direita, fala com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, no edifício do Conselho Europeu em Bruxelas, a 22 de janeiro de 2024. Direitos de autor John Thys/The AP.
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De  Mared Gwyn JonesShona Murray
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Artigo publicado originalmente em inglês

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, provocou polémica depois de ter utilizado uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia, em Bruxelas, para promover um plano de construção de uma ilha artificial ao largo da costa de Gaza.

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A reunião ministerial da UE tinha como objetivo debater a crise humanitária na Faixa de Gaza e os possíveis primeiros passos para uma resolução pacífica do conflito de longa duração entre Israel e a Palestina, com a presença de chefes da diplomacia desses partes e da Jordânia, Arábia Saudita e Jordânia.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, que no início do dia tinha descrito a reunião como "excecional", disse que a intervenção de Katz  - em que montou um vídeo sobre uma ilha artificial a criar no Mar Mediterrâneo, perto da costa de Gaza - foi "irrelevante" para as discussões.

"Penso que o ministro poderia ter utilizado melhor o seu tempo para se preocupar com a situação no seu país, ou com o elevado número de mortos em Gaza", afirmou Borrell na conferência de imprensa final.

Um vídeo antigo que criou perplexidade

Katz, que foi recentemente nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, mostrou aos seus homólogos europeus dois vídeos durante a reunião, disse Borrell.

O primeiro promovia um projeto de infra-estruturas ferroviárias que ligava Gaza ao território palestiniano ocupado da Cisjordânia. O segundo mostrava uma proposta de construção de uma ilha artificial no Mar Mediterrâneo, ao largo da costa de Gaza, que serviria de plataforma comercial para ligar a Faixa de Gaza ao resto do mundo.

O projeto de infra-estruturas remonta ao tempo de Katz como ministro dos Transportes de Israel e foi apresentado pela primeira vez, num vídeo de 2017m como "uma resposta a uma realidade que é má para os palestinianos e não é boa para Israel", segundo a Reuters.

Mas, de acordo com uma fonte diplomática que falou sob condição de anonimato, a decisão de Katz de apresentar a iniciativa durante as discussões centradas em potenciais futuras negociações de paz deixou os ministros da UE "perplexos".

Katz não sugeriu que a ilha pudesse ser utilizada para alojar habitantes de Gaza, nem relacionou a iniciativa com a chamada solução dos dois Estados, acrescentou a fonte diplomática.

Mas Borrell disse que os vídeos tinham "pouca ou nenhuma relevância para a questão em debate".

A reunião teve lugar um dia depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter reiterado a sua oposição à criação de um Estado palestiniano no âmbito da chamada solução de dois Estados, após a guerra que se arrasta desde o ataque de 7 de outubro contra Israel, orquestrado pelo grupo militante Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

UE unânime na solução de dois Estados

A solução de dois Estados - que permitiria aos palestinianos obter um Estado - é o objetivo global desejado pela UE e pelos aliados ocidentais após a guerra, incluindo os EUA, que são o principal aliado de Israel.

Borrell insistiu que só a solução de dois Estados pode dar aos israelitas e aos palestinianos as garantias de segurança de que necessitam. Disse também que a UE e a comunidade internacional em geral têm a "obrigação moral" de encontrar e propor uma solução.

O chefe da diplomacia da UE afirmou que a comunidade internacional têm a "obrigação moral" de encontrar e propor uma solução.

Os 27 Estados-membros da UE, que por vezes demonstraram desunião na sua reação à guerra entre Israel e o Hamas, que é considerado uma organização terrorista pelo bloco, foram unânimes no seu apoio à solução de dois Estados, realçou Borrell.

"Todos os Estados-membros lhe disseram (a Katz) que acreditam que a solução para uma paz permanente e duradoura que garanta a segurança de Israel (...) passa pela criação de um Estado palestiniano. Isto não o fez certamente mudar de ideias, mas não esperávamos nada em contrário", explicou o chefe da diplomacia da UE.

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