O Parlamento Europeu está à espera que as autoridades judiciais forneçam informações que possam levar ao levantamento da imunidade dos eurodeputados no âmbito do chamado escândalo "Russiagate", disse a presidente, Roberta Metsola, em entrevista à Euronews.
"Continuamos a aguardar informações das autoridades nacionais, uma vez que tal exigiria que o levantamento da imunidade fosse adotado por esta Assembleia", explicou Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, segunda-feira, em Estrasburgo (França) sobre as suspeitas de que alguns eurodeputados receberam dinheiro de uma rede apoiada pelo Kremlin para fazerem propaganda pró-Rússia.
"As investigações que teriam de ser efetuadas, como aconteceu no passado, exigiriam que as autoridades nacionais as solicitassem. Estamos a aguardar por isso. E se isso acontecer, faremos o nosso trabalho como sempre fizemos", acrescentou, na entrevista que deu à Euronews por ocasião da última sessão plenária do Parlamento Europeu, antes das eleições europeias de 6-9 de junho.
As autoridades judiciais belgas abriram um inquérito para investigar as alegações, com base em dados obtidos pelas autoridades checas, que desmantelaram uma operação semelhante, em março.
A menos de dois meses da eleição de 720 eurodeputados para o mandato 2024-2029, aumenta o receio de que entidades próximas do presidente russo, Vladimir Putin, possam estar a utilizar a manipulação de informação para desestabilizar as eleições no bloco que tem ajudado a Ucrânia desdo o início da invasão pela Rússia em larga escala, em 2022.
Um novo caso depois do escândalo de 2022
O chamado "Russiagate" é o segundo escândalo de tráfico de influências que abala o Parlamento Europeu desde que Metsola assumiu o cargo, em 2022.
Em dezembro desse ano, eurodeputados de centro-esquerda (inlcuindo a vice-presidente Eva Kaili) e funcionários foram acusados de receber dinheiro de representes dos governos do Qatar, Marrocos e Mauritânia para influenciar decisões do hemiciclo que os favorecessem.
Metsola teve de autorizar e estar presente numa rusga à casa da vice-presidente Eva Kaili, onde foram recuperados 150 mil euros em dinheiro. Em declarações à Euronews, descreveu a experiência como um "murro no estômago".
Contudo, a presidente garantiu que a resposta da instituição assegurou que a ação de alguns não acabaria por manchar a reputação de todo o Parlamento Europeu.
"Nesse dia, fizemos uma escolha. Ou dizemos que isto é algo que acontece em qualquer parlamento, ou olhamos para a cor partidária ou olhamos para o país em causa", afirmou a presidente, a propósito do escândalo do Qatargate.
"Mas eu recusei-me a fazer isso. Eu disse que esta Assembleia tem de avançar. Esta Assembleia tem de se certificar de que, se uma coisa destas voltasse a acontecer, seriam criadas barreiras de segurança e soariam os alarmes", acrescentou.
A presidente disse ter ficado "orgulhosa" da reação dos eurodeputados quando disseram: "Não queremos que este mandato, que é enorme em termos de impacto, seja manchado pelas alegadas ações de um pequeno número de pessoas."
Metsola liderou uma reforma com regras de ética destinada a colmatar lacunas e a reprimir interesses indevidos. Os eurodeputados têm de cumprir regras mais rigorosas quando aceitam presentes, viagens pagas por países terceiros, empregos paralelos e tem de fazer um período de reflexão após a cessação de funções.
O acordo sobre a criação de um órgão de ética encarregado de aplicar as novas regras será votado em plenário, na quinta-feira. O acordo é o resultado de negociações entre oito instituições da UE e baseia-se numa proposta da Comissão Europeia apresentada a pedido do Parlamento.
Roberta Metsola volta a ser candidata por Malta e pertence ao Partido Popular Europeu (bancada de centro-direita), que as sondagens apontam como provável vencedor das eleições.
A entrevista completa será transmitida no programa "The Global Conversation", na quinta-feira à noite.