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Por que é que Emmanuel Macron é tão odiado pelos eleitores franceses?

O Presidente francês Emmanuel Macron participa numa cerimónia na Cruz da Memória, na terça-feira, 18 de junho.
O Presidente francês Emmanuel Macron participa numa cerimónia na Cruz da Memória, na terça-feira, 18 de junho. Direitos de autor AP Photo
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De  Isabelle Repiton
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Artigo publicado originalmente em francês

A decisão de dissolver a Assembleia Nacional não é compreendida pelos franceses e é vista como um último ato de arrogância, segundo o analista Alain Duhamel. "Desfasado", "narcisista", "desligado": os franceses não são simpáticos para o seu Presidente.

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A opinião dos franceses sobre o seu Presidente, Emmanuel Macron, já era má, mas deteriorou-se ainda mais desde o dia 9 de junho. A sua decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições para 30 de junho e 7 de julho está longe de ser unânime.

"Desfasado", "narcisista", "desligado" são alguns dos adjetivos que os franceses escolheram para qualificar o Presidente. Nenhum é simpático.

"A rejeição do Presidente da República nunca foi tão elevada", afirma Alain Duhamel, jornalista e ensaísta político.

O autor de "Prince Balafré - Emmanuel Macron et les Gaulois (très) réfractaires", publicado em setembro de 2023 já tinha analisado "o ódio particular contra Emmanuel Macron."

A sua decisão solitária de dissolver a Assembleia Nacional e convocar, à pressa, eleições legislativas para 30 de junho e 7 de julho, anunciada na mesma noite das eleições para o Parlamento Europeu, a 9 de junho, "simboliza e reforça esta rejeição", acrescenta.

Este desencanto reflecte-se no fraco resultado obtido pela lista do partido da Renaissance do Presidente nas eleições europeias: 14,6% dos votos, atrás da extrema-direita, que obteve quase 40% dos votos, dos quais 31% para o Rassemblement National (RN).

Uma semana depois de 9 de junho, Emmanuel Macron tinha perdido entre 5 e 7 pontos de opinião favorável, caindo para 28% (sondagem Ipsos) ou 26% (Ifop).

Impopularidade "normal" para um Presidente francês

Mas esta falta de popularidade parece não ser exclusiva de Macron. "Todos os presidentes foram impopulares, até De Gaulle", recorda Alain Duhamel. O surto de popularidade que se segue à sua eleição dá rapidamente lugar ao desencanto da população francesa.

François Hollande, o antecessor de Emmanuel Macron, desceu abaixo dos 20% durante o seu mandato.

E também o alemão Olaf Scholtz entra para a estatística de impopularidade, com apenas 27% de opiniões favoráveis, segundo a sondagem Ipsos para a Euronews, realizada em março de 2024 em 18 países da União Europeia.

Hoje, Emmanuel Macron vê os seus próprios apoiantes afastarem-se: perdeu 11 pontos de opinião favorável entre os eleitores que o escolheram na primeira volta, em maio de 2022.

"É entre o seu eleitorado que a incompreensão da sua decisão de dissolver a Assembleia é mais forte. Foi sentida como uma traição", afirma Alain Duhamel.

Um ódio "pessoal" a Emmanuel Macron

Para além desta rejeição ligada ao cargo, à oposição às políticas seguidas e ao desgaste do poder inerente a um segundo mandato, há uma "dimensão pessoal" de Emmanuel Macron, explica Alain Duhamel.

É a própria pessoa, o seu carácter, que irrita os franceses. Os candidatos do seu partido às próximas eleições já não exibem o seu rosto nos cartazes de campanha: afirmar-se próximo dele é agora uma desvantagem.

A dissolução é vista como "uma reação de orgulho ferido, uma lição dada ao povo por ter votado mal", continua o ensaísta. Uma lição que repetiu quando apelou aos franceses para que fossem "responsáveis", pedindo-lhes que votassem contra os extremos, tanto à direita como à esquerda, nas eleições legislativas.

Reforça a imagem de um homem arrogante, até mesmo desdenhoso, apressado e autoritário, que fez aprovar reformas impopulares como o aumento da idade da reforma. Um homem que, sob o pretexto de "grandes debates" para aliviar crises como a dos Coletes Amarelos, no final de 2018, se esquiva à consulta e à negociação.

Um homem "fora de contacto" com as preocupações dos seus concidadãos, um "presidente dos ricos" com um passado de banqueiro de investimento.

Jogo de póquer e dramatização

Emmanuel Macron tinha dito que queria deixar o seu primeiro-ministro Gabriel Attal liderar a campanha para as eleições legislativas. Mas em vez de se manter discreto, está omnipresente.

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A sua decisão súbita e inesperada, descrita por muitos observadores em França como uma "jogada de póquer", e os seus discursos sobre o tema "eu ou o caos", não só causam preocupação a uma grande parte da população francesa, como também "uma animosidade e um ressentimento agudos", segundo Alain Duhamel.

Em vez de acalmar e aproximar as pessoas, está a atiçar a histeria no debate.

Presidente francês Emmanuel Macron durante o seu discurso na sessão de abertura da conferência African Vaccine Manufacturing Accelerator" em Paris. 20 de junho
Presidente francês Emmanuel Macron durante o seu discurso na sessão de abertura da conferência African Vaccine Manufacturing Accelerator" em Paris. 20 de junhoDylan Martinez/AP

Pequenas frases que deixam as pessoas tensas

Em "Le Prince Balafré", Alain Duhamel já descreveu Macron como "desajeitado", "imprudente" que fala "demasiado, demasiado depressa, demasiado alto".

Em 2018, disse a um horticultor desempregado: "Vou atravessar a rua e encontrar-te (um emprego)". E tantas outras pequenas frases sem filtro que ficaram na memória dos franceses como sinais do seu desprezo.

Segundo o Le Monde, o antigo deputado do Renaissance, Patrick Vignal, disse a Macron, que lhe telefonou depois de 9 de junho para avaliar as reacções à dissolução. "As pessoas odeiam-te."

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Um líder apreciado na Europa... até agora

No entanto, fora de França, de acordo com uma sondagem da Ipsos para a Euronews, realizada em março de 2024 em 18 países da União Europeia, Emmanuel Macron é o líder europeu com as opiniões mais favoráveis (41%), logo a seguir ao ucraniano Volodymyr Zelensky (47%).

Esta popularidade poderá ser abalada se a sua manobra prejudicar a Europa, permitindo que um governo de extrema-direita tome o poder em França.

A sua decisão é descrita na imprensa internacional como uma "aposta louca" (Le Soir), "muito arriscada", que "torna a Europa refém", um "perigo imenso para a União Europeia" (Blick).

Ainda assim, talvez sejam os franceses os culpados, como defende um editorialista italiano do diário liberal Il Foglio. Para ele, "o ódio dos franceses a Emmanuel Macron é psicanalítico, porque elegeram um reformista, apesar de odiarem a mudança."

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