Órfãos da violência doméstica - as vítimas esquecidas

A 8 de janeiro deste ano, em apenas 24 horas, quatro mulheres foram dadas como mortas em Espanha, vítimas de violência doméstica
A 8 de janeiro deste ano, em apenas 24 horas, quatro mulheres foram dadas como mortas em Espanha, vítimas de violência doméstica Direitos de autor Manu Fernandez/AP
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De  Jaime Velázquez
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Espanha só reconheceu os órfãos como vítimas de violência doméstica em 2015

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Joshua Alonso tinha 25 anos quando perdeu a mãe, morta pelo companheiro. Ficou a cuidar do irmão de oito anos e entrou para a triste estatística dos órfãos da violência doméstica em Espanha. São quase 400 na última década. O último caso foi notícia no início de março. Um rapaz de seis anos, de Saragoça, que ficou sem mãe.

"Quando ouço qualquer notícia sobre violência de género, especialmente se há órfãos de violência doméstica envolvidos, pergunto-me se as coisas estão a ser feitas da forma que deveriam ser feitas. Se estas crianças estão a ser protegidas," interroga-se Joshua Alonso em voz alta.

Este jovem adulto trabalha agora com crianças. Quer quebrar os estereótipos de género e lutar pelos direitos das crianças órfãs, que sente serem as vítimas esquecidas da violência machista. "Eles são os grandes esquecidos. Porquê? - Porque não podem levantar a voz," diz.

Em Espanha, a Justiça só desde 2015 reconhece os órfãos como vítimas diretas de violência doméstica. O objetivo é agora que tenham acesso a uma pensão de orfandade digna.

"O mais importante é assegurar que o desenvolvimento pessoal, educativo, emocional... acima de tudo, o desenvolvimento educativo e a autonomia pessoal destas crianças seja afectado o menos possível. Por outras palavras, não fomos capazes de proteger as suas mães, mas temos a responsabilidade social de assegurar que estas pessoas não vivam na pobreza," afirma Marisa Soleto, directora da Fundación Mujeres e responsável pela gestão das Bolsas de Estudo Soledad Cazorla para órfãos de violência de género.

A responsabilidade social não se esgota nas questões financeiras. Há que ultrapassar o trauma que muitas vezes os mais novos nem consegue racionalizar.

"A primeira coisa é que perdeu a sua mãe, claro, perdeu o seu vínculo primário, o vínculo mais confiável, e perdeu também o seu pai. Chamamos-lhe pai, mas gosto de diferenciar: um pai é aquele que cuida de ti, um pai que matou a tua mãe não é um pai. Ficas sem tudo aquilo em que confiaste," explica Fanny Sánchez Juan, psicóloga.

O movimento de mulheres volta mais uma vez às ruas para exigir o fim da violência machista. Mas apesar de todos os esforços, este tem sido um início dramático para o ano: 2023 já deixou dez mulheres assassinadas e 14 menores órfãos devido à violência de género.

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