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Como Gisèle Pélicot se tornou símbolo da luta contra a violência sexual em França

Pessoas participam numa manifestação de apoio a Gisèle Pélicot, de 71 anos, que terá sido drogada pelo ex-marido e violada por dezenas de homens, 14 de setembro de 2024
Pessoas participam numa manifestação de apoio a Gisèle Pélicot, de 71 anos, que terá sido drogada pelo ex-marido e violada por dezenas de homens, 14 de setembro de 2024 Direitos de autor Michel Euler/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Michel Euler/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.
De  Euronews com AP
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Artigo publicado originalmente em inglês

Alguns dos manifestantes carregavam cartazes que saudavam Gisèle Pélicot por ter falado sobre a sua terrível provação às mãos do agora ex-marido e asseguravam a outras vítimas de violência sexual que não estão sozinhas.

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Gisèle Pélicot, a mulher alegadamente drogada pelo ex-marido ao longo de uma década para ser violada por dezenas de homens enquanto estava inconsciente, tornou-se um símbolo da luta em França contra a violência sexual.

Cerca de 700 pessoas reuniram-se na Place de la République, em Paris, para apoiar a mulher de 71 anos e todas as vítimas de violação em França.

Alguns carregavam cartazes que saudavam Pélicot por ter falado sobre a horrível provação e asseguravam a outras vítimas de violência sexual que não estão sozinhas.

"Vítimas, nós acreditamos em vós. Violadores, estamos a ver-vos", dizia uma faixa.

Desde o início do julgamento, a 2 de setembro, durante o qual Pélicot vai enfrentar 51 dos seus alegados violadores, tem sido elogiada pela sua coragem e compostura.

Gisèle Pélicot à saída do tribunal
Gisèle Pélicot à saída do tribunalLewis Joly/AP

Os apoiantes realçam a decisão de manter o julgamento público, depois de o tribunal ter sugerido inicialmente que fosse realizado à porta fechada. Permitiu que os jornalistas publicassem o seu nome completo e que o tribunal exibisse vídeos explícitos, gravados pelo marido, que mostravam homens a praticar atos sexuais com o seu corpo nu e inerte.

Pélicot afirmou que as decisões foram tomadas em solidariedade com outras mulheres que não são reconhecidas como vítimas de crimes sexuais.

"É muito importante estarmos aqui porque precisamos de falar sobre a cultura da violação", disse Anna Toumazoff, ativista e uma das organizadoras do protesto em Paris. "Após sete anos de MeToo, sabemos que não existe um tipo especial de vítima. Também estamos a perceber coletivamente que não existe um tipo especial de violador", acrescentou.

Apesar das várias ondas de reconhecimento do movimento #Metoo em França, que contou com várias mulheres de renome a falar publicamente sobre o trauma que sofreram após anos de abuso sexual, os manifestantes disseram que grande parte da violência continua a não ser denunciada e muitas vezes fica impune.

No dia 5 de setembro, Pélicot falou em público sobre a sua experiência pela primeira vez desde que os agentes da polícia, quatro anos antes, a chamaram para lhe contar o impensável.

Com uma voz calma e clara, descreveu o horror de descobrir que o seu ex-cônjuge a tinha sedado e convidado pelo menos 72 estranhos para a sua casa na Provença para terem relações sexuais com ela.

"Para mim, tudo se desmorona", testemunha. "São cenas de barbárie, de violação."

Nesse dia, a emissora nacional TF1 descreveu uma mulher "digna, forte", que estava "de cabeça erguida".

Numa carta aberta traduzida para inglês e publicada no diário francês Le Monde, a jornalista e escritora Hélène Devynck agradeceu a Pélicot pela sua coragem, fazendo eco dos sentimentos de muitos outros franceses.

"Entrou nas nossas vidas como entrou no tribunal de Avignon, pela porta da frente", escreveu Devynck, uma figura do movimento francês #MeToo.

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"Não foi só a ti, Gisèle, que eles trataram como uma coisa. Estavam a dizer-nos, a todas nós mulheres, o quão insignificantes somos. A tua força restaura a nossa. Obrigada por esta imensa dádiva", diz a carta.

Manifestação de apoio a Gisèle Pélicot em Paris
Manifestação de apoio a Gisèle Pélicot em ParisMichel Euler/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.

Na próxima semana, Gisèle Pélicot terá de enfrentar outra montanha: enfrentar o homem com quem partilhou a vida durante mais de 50 anos e pai dos seus três filhos. O advogado disse que ela tenciona assistir ao seu depoimento.

O ex-marido, Dominique Pélicot, já confessou os crimes aos investigadores. Mas a sua audição em tribunal será crucial para que o coletivo de juízes decida sobre o destino dos outros 50 homens acusados de violação.

Dominique Pélicot, atualmente com 71 anos, e os outros 50 arguidos podem apanhar até 20 anos de prisão se forem condenados.

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"A mensagem que temos de fazer passar é, acima de tudo, que "não é não", e isto não vai continuar a ficar impune", disse Lucia, uma das manifestantes em Paris.

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