Plano prevê que as forças israelitas permaneçam na Faixa de Gaza por um período de tempo não especificado.
Israel aprovou, esta segunda-feira, planos para capturar toda a Faixa de Gaza e permanecer no território por um período de tempo não especificado, informaram dois responsáveis israelitas, numa medida que, a ser implementada, expandiria de forma abrangente as operações de Israel no território palestiniano e, provavelmente, provocaria uma feroz oposição internacional.
Segundo a Associated Press, os membros do Conselho de Ministros israelita aprovaram o plano numa votação esta manhã, horas depois de o chefe militar israelita ter dito que o exército estava a convocar dezenas de milhares de soldados na reserva.
O plano deverá implicar o deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinianos para o sul da Faixa de Gaza, o que deve piorar ainda mais uma situação humanitária considerada catastrófica.
Desde o colapso do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em meados de março, Israel desencadeou ataques ferozes no território, que causaram centenas de mortos. Capturou vastas áreas do território e controla agora cerca de 50% da Faixa de Gaza. Antes do fim das tréguas, Israel suspendeu toda a ajuda humanitária a Gaza, incluindo alimentos, combustível e água, desencadeando o que se crê ser a pior crise humanitária em quase 19 meses de guerra.
Durante semanas, Israel tem tentado aumentar a pressão sobre o Hamas e levá-lo a mostrar mais flexibilidade nas negociações de cessar-fogo. Mas os mediadores internacionais que tentam levar as partes a um novo acordo têm tido dificuldade em fazê-lo. As medidas de Israel não parecem ter afastado o Hamas das suas posições negociais.
Israel quer controlar distribuição de ajuda
O anterior cessar-fogo destinava-se a levar as partes a negociar um fim para a guerra, mas esse objetivo tem sido um ponto de bloqueio recorrente nas conversações entre Israel e o Hamas, mediadas pelo Egito e pelo Qatar. Israel afirma que não aceitará pôr fim à guerra enquanto o Hamas não for completamente derrotado, o que implica que o grupo armado palestiniano, que controla o território desde 2007, deixe de governar a Faixa de Gaza. Entretanto, o Hamas exigiu um acordo que ponha fim à guerra.
Os altos funcionários israelitas ouvidos pela AP não revelaram pormenores sobre como o plano pretende impedir o Hamas de participar na distribuição da ajuda. Um deles disse que os ministros tinham aprovado “a opção de distribuição de ajuda”, sem entrar em pormenores.
De acordo com um memorando interno que circulou entre os grupos de ajuda humanitária e que foi visto pela AP, Israel terá dito às Nações Unidas que irá utilizar empresas de segurança privadas para controlar a distribuição de ajuda em Gaza. A ONU, numa declaração de domingo, disse que não participaria no plano tal como lhe foi apresentado, afirmando que viola os seus princípios fundamentais.
O atual conflito na Faixa de Gaza começou quando membros do Hamas atacaram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns. Israel afirma que 59 reféns permanecem em Gaza, embora se acredite que cerca de 35 estejam mortos.
A ofensiva israelita que se desencadeou desde então matou mais de 52.000 pessoas em Gaza, muitas das quais mulheres e crianças, segundo as autoridades sanitárias palestinianas, que não distinguem entre combatentes e civis na sua contagem.
Os combates deslocaram mais de 90% da população de Gaza, muitas vezes várias vezes, e transformaram Gaza numa lugar inabitável.
Israel ocupou a Faixa de Gaza na guerra de 1967, mantendo a ocupação até 2005, altura em que retirou todas as tropas e colonatos. Dois anos mais tarde, o Hamas assumiu o controlo e, desde então, tem mantido a administração do território.