O primeiro-ministro Viktor Orbán é há muito acusado de desmantelar as instituições democráticas e de violar as normas da UE em matéria de Estado de direito, o que levou a legislatura do bloco europeu a pedir, em maio, que a presidência fosse totalmente retirada das mãos da Hungria.
A Hungria assume a presidência da União Europeia, esta segunda-feira, e alguns eurodeputados, em Bruxelas, devem estar a questionar-se se o primeiro-ministro populista Viktor Orbán irá usar o cargo para promover a sua reputação como o principal "desmancha-prazeres" do bloco.
Nos últimos anos, Orbán tem aproveitado as oportunidades para contrariar o consenso geral da UE, bloqueando, diluindo ou atrasando decisões fundamentais e indo contra a posição dos outros líderes em matérias como guerra na Ucrânia e as relações com a Rússia e a China.
A sua oposição às políticas e posições da UE há muito que o empurram para as margens da corrente dominante do continente europeu.
“Tornar a Europa grande outra vez”
O lema da presidência húngara - “Tornar a Europa grande outra outra vez” - suscitou algumas dúvidas em alguns setores devido à sua semelhança com o famoso slogan utilizado pelo antigo presidente dos EUA, Donald Trump.
A presidência da UE é rotativa entre os países membros e, embora o cargo tenha, na prática pouco poder, permite que os países coloquem as suas prioridades no topo da agenda europeia.
Agora que a Hungria se prepara para presidir ao bloco de 27 nações durante os próximos seis meses, alguns analistas esperam que mantenha a sua retórica anti-UE.
Contudo, o calendário da presidência começa com uma longa pausa de verão e um período de transição para a formação de um novo Parlamento Europeu e de uma nova Comissão Executiva, deverá dar a Budapeste poucas oportunidades para fazer descarrilar as prioridades da UE.
"Estes seis meses não são assim tão longos, o que significa que a Hungria não pode causar grandes danos, mesmo de acordo com os críticos", disse Dorka Takácsy, investigadora do Centro para a Integração Euro-Atlântica e a Democracia.
Com a aproximação da tomada de posse da Hungria, os dirigentes de Bruxelas, apressaram-se a tomar decisões políticas importantes enquanto a Bélgica ainda detinha a presidência.
Na semana passada, a UE iniciou conversações de adesão com a Ucrânia e a Moldávia. Orbán manifestou a sua oposição à candidatura da Ucrânia e ameaçou bloqueá-la. O seu governo também tem impedido os esforços da UE para canalizar para a Ucrânia os tão necessários fundos.
"Todos os passos significativos do lado europeu relativamente à Ucrânia já foram dados", disse Takácsy. "Um atraso húngaro, de acordo com a maioria dos líderes europeus, já está calculado e está a ser tomado em consideração como se fosse algo que muito provavelmente vai acontecer."
Há muito que Orbán é acusado de desmantelar as instituições democráticas e de violar as normas da UE em matéria de Estado de direito. Em maio, foi feito um pedido para que a presidência fosse totalmente retirada das mãos da Hungria.
O Parlamento Europeu argumentou que as deficiências democráticas levantavam questões sobre "como é que a Hungria será capaz de cumprir esta tarefa de forma credível em 2024".
Há dois anos, a Comissão Europeia congelou milhares de milhões de euros em fundos para Budapeste devido a preocupações com o retrocesso democrático.
Mas alguns responsáveis húngaros sublinharam que tencionam agir de forma construtiva durante a presidência.
Na semana passada, o ministro húngaro dos Assuntos Europeus, János Bóka, disse aos jornalistas que "seremos intermediários honestos, trabalhando lealmente com todos os Estados-Membros e instituições".
"Desempenhar as funções da presidência é a nossa obrigação, mas vêmo-la sobretudo como uma oportunidade", afirmou Bóka. "No início do novo ciclo institucional, podemos iniciar um debate e definir a agenda sobre questões que são importantes para nós."
Entre as questões a que a Hungria deu prioridade no seu programa de sete pontos está o alargamento da UE a países dos Balcãs Ocidentais como a Sérvia, a Macedónia do Norte, o Montenegro e a Albânia, através de um procedimento "baseado no mérito".
Budapeste prometeu, também, reforçar as fronteiras externas da UE e combater a imigração ilegal, bem como enfrentar os "desafios demográficos" que envolvem o envelhecimento da população europeia - duas prioridades que refletem a imagem de Orbán como um firme opositor da imigração e defensor dos valores da família.
Mas depois de anos de campanhas que retratam a UE como forçando políticas indesejadas na Hungria, Orbán tem comparado repetidamente a adesão ao bloco com mais de quatro décadas de ocupação soviética do seu país. Isto significa que ele pode ter dificuldade em restaurar a boa vontade entre os seus parceiros da UE.