A UE tem apresentado uma série de pacotes de defesa que, segundo afirma, garantirão que a Europa estará pronta para se defender da Rússia até 2030. Os cidadãos não parecem estar tão confiantes, com dois terços dos europeus a sugerir que os seus exércitos não podem enfrentar militarmente a Rússia.
Mais de dois terços dos europeus acreditam que o seu país não seria capaz de se defender militarmente de um ataque russo, revela uma nova sondagem, poucos dias depois de Vladimir Putin ter afirmado que o seu país está "pronto neste momento" para enfrentar a Europa.
Dos 9.500 inquiridos pelo instituto de sondagens Cluster 17 para o Le Grand Continent, em nove Estados-membros da União Europeia, 69% disseram não ter confiança na capacidade do seu país para defender, com sucesso, os seus territórios contra uma agressão russa.
O país com maior confiança na sua capacidade militar para enfrentar a Rússia é França (44%), embora a maioria dos inquiridos (51%) continue a ter uma perspetiva negativa. As taxas mais baixas foram registadas na Bélgica, Itália e Portugal, com taxas superiores a 85% no que diz respeito à falta de confiança na sua resposta em matéria de defesa.
Os autores da sondagem afirmam que a geografia desempenha um papel importante na diferença de perceção entre os países da UE. Os países que se sentem menos capazes estão geograficamente distantes da Rússia e, portanto, menos propensos a entrar em confronto militar direto com Moscovo.
"A distância geopolítica traduz-se, portanto, numa fraca confiança na preparação nacional", acrescentam.
A sondagem, divulgada na quinta-feira, surge dias após o presidente russo, Vladimir Putin, ter lançado um aviso à Europa, afirmando que o seu país está "pronto, neste momento", para lutar "se a Europa quiser lutar" contra os russos.
O comentário de Putin, na terça-feira, surgiu horas antes de se encontrar com negociadores norte-americanos, numa tentativa renovada de Washington para pôr fim à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Os europeus, que têm tido dificuldade em encontrar um ponto de apoio nas conversações de paz, têm apelado a fortes garantias de segurança para a Ucrânia, que poderiam também incluir tropas estrangeiras no terreno em áreas de "não contacto", como uma força de tranquilização, apesar de os pormenores não terem sido explicitados.
A Rússia tem afirmado que uma presença estrangeira na Ucrânia, seja a que título for, constituiria uma escalada. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo reiterou também, esta semana, que a presença de empresas militares privadas francesas na Ucrânia como "operadores de referência" do Ministério das Forças Armadas "será vista por Moscovo como uma participação direta nas hostilidades contra a Rússia" e, como resultado, tornar-se-á um alvo legítimo.
A sondagem, que foi realizada em França, Croácia, Alemanha, Polónia, Países Baixos, Espanha, Portugal, Itália e Bélgica, surge no momento em que a Europa promove um esforço de rearmamento massivo, com centenas de milhares de milhões de euros investidos em despesas de defesa pelos países da UE.
No entanto, a falta de confiança para enfrentar a Rússia sugere que muitos dos anúncios feitos pelos Estados-membros e pela Comissão Europeia no sentido de reforçar as capacidades militares da Europa não estão a ter ressonância junto de uma grande parte da população europeia.
Os países da UE concordaram em aumentar a produção de armas e acelerar as aquisições militares para poder deter uma agressão antes do final da década, altura em que algumas agências de informação avisam que Moscovo poderá testar o artigo 5.º da NATO.
No entanto, a sondagem não leva em consideração que parece improvável que qualquer Estado-membro da UE tenha de lutar sozinho contra a Rússia ou que o confronto ocorra provavelmente sob a forma de uma guerra híbrida, em vez de um ataque militar direto.